quarta-feira, 12 de maio de 2010

DEBATE SOBRE O CONCEITO DE "ARTES CÊNICAS"

ALICE VIVEIRO DE CASTRO:
Comecei a escrever uma mensagem sobre o sentido histórico do uso da expressão Artes Cênicas e nào sei o que se passou mas acho que ela foi enviada pela metade.....
Minha maior preocupação é que Circo, Dança e Teatro comecem uma discussão estéril cada um puxando a brasa para a sua sardinha. Sei que muitos não gostam dessa expressão mas eu sou das que entendo e
defendo o seu uso. Houve um tempo em que o Governo Federal só conhecia o Teatro e só existia o Serviço Nacional de Teatro. O circo e a dança entravam de gaiatos, conseguindo algumas sobras, no caso do Circo era possível conseguir alguns apoios por conta dos circos-teatros e dos teatros de pavilhão. Orlando Miranda e sua super equipe, Carlos Miranda e Cia., com o apoio das entidades de classe conseguiu criar o INACEN, mais tarde FUNDACEN. O que mais gosto no termo Artes Cênicas é que uma soma de Circo, Dança e Teatro. Devemos ter diretorias e programas próprios para cada uma das formas de expressão mas não devemos jamais negar que somos todos da mesma família: a dos artistas da cena, que fazem ao vivo, direto, que jogam com o público de uma forma que midia nenhuma nunca poderá substituir. Teatro de Rua e Circo tem tudo a ver. Dança e Acrobacia e Áreos tem tudo a ver. Teatro é uma forma de expressão mas é também uma casa de espetáculos onde tudo pode acontecer.  Circo é uma forma de expressão mas é também uma casa de espetáculos onde tudo pode acontecer. Vivemos num tempo em que se dança no teatro, se fala na dança, e o circo assume cada vez mais sua missão de espetáculo total. De todas as áreas a mais prejudicada historicamente é o Circo. Os valores são incompatíveis com a presença dos circos em todas as regiões brasileiras, com o público atendido e com os custos para a realização dos espetáculos. Um pequeno circo de periferia é um investimento de mais de R$ 50.000. Qual o teatro ou grupo de dança que investe suas próprias economias e tem sua casa de espetáculos equipada e com os aparelhos necessários
para cada um dos inúmeros números???? Não estou dizendo que o circo tem ou não que ganhar mais que as outras áreas. Só quero mostrar aos companheiros que esta é a hora de lutarmos juntos. Política de Circulação de Espetáculos - circo, dança e teatro serão contemplados! Política de Formação e Aperfeiçoamente - circo, dança e teatro serão contemplados! Apoio a Montagens - circo, dança e teatro serão contemplados! É claro que cada área tem características que as diferenciam mas o mesmo acontece dentro de cada uma das áreas. Será que vamos discutir uma divisão de recursos para o Teatro de Rua,
de Sala, o para a infância, o para jovens??? e a dança vai se dividir pelas linguagens estéticas? enfim... acho muito importante que os companheiros do Teatro compreendam que colocar na lei o PRÊMIO para o TEATRO é uma atitude que poderá ser prejudicial a todos. Gostaria de ter assesso aos projetos de lei do Teatro, me parece que são 3?! Enfim, vamos tentar somar antes de dividir. abraços
Alice Viveiros de Castro


TICHE VIANA:
Alice,
Concordo com tuas colocações: somos cênicos e isto é um princípio que nos alia. Tb temos que explicitar as especificidades que nos singulariza, mas isso não significa nos dividir, entretanto, ao invés de questionar a proposição do Prêmio Teatro Brasileiro - que é uma luta que há anos está sendo batalhada por grupos de 12 estados brasileiros que integraram um movimento nacional e que é legitimada por uma situação de confronto, há mais de cinco anos, que toca a relação da Arte e da construção de um pensamento sobre Política Pública, na defesa de um modo de produção de grupo - repito, ao invés de questionar a proposição, não seria o caso de afirmar a necessidade de um Prêmio desta dimensão, que também contempla o modo de produção dos coletivos cênicos e ampliar a criação de Prêmios para outras áreas dentro das suas especificidades? O Circo e a Dança tb precisam de um Prêmio Circo Brasileiro, Prêmio Dança Brasileira, não? O prêmio está aqui como proposta porque está girando no ministério há anos e é o resultado de diversos encontros, ao longo do tempo, para aliança entre grupos na discussão das necessidades de diversas regiões, das experiências conquistadas com vitórias e derrotas quanto às relações com as políticas públicas. Não estou sugerindo, com meus argumentos, que não devemos fazer este tipo de discussão, muito pelo contrário, estou discutindo.

Abraço,
Tiche Vianna
BARRACÃO TEATRO

MARISE SIQUEIRA
Caros,

Me agrada muito o debate sobre o conceito "artes cênicas", e apesar de entender que este é um espaço apropriado para que façamos uma boa e entusiasmada análise, penso que o momento não o é - claro, podemos ir evoluindo numa discussão paralela, até para dar subsídios para os seguidores do grupo Debate Cênico.
Em relação às artes da "cena": hoje podemos falar que uma instalação de artes visuais ou a própria música e a literatura não são artes da cena? E as performances? Temos muito a discutir sobre a relação entre espaços cênicos ou espaços performáricos, espaço de acontecimento ou área de conhecimento, etc...
Como podem perceber, sou a favor de abolir (com carinho) a nomenclatura Artes Cênicas, nas discussões de políticas públicas, mas esse será um árduo e prazeroso processo.  Quanto ao Premio Programa Tetro Brasileiro, eu, pessoalmente, profissional da Dança, sou a favor. Como também sou favorável aos Prêmios de literatura, cinema, música, artes visuais, investimento em preservação do patrimônio histórico material e imaterial... Não é porque o cinema recebe 200 x mais recursos públicos que a dança que vou deixar de apoiar políticas públicas estruturantes para o cinema, que hoje tem movimentado a maior fatia do PIB da cultura. Provavelmente em decorrência do fomento e de políticas públicas estruturantes o cinema se tornou auto-sustentável (ou está nesse caminho). Não sei se esse é ou será o posicionamento de todos ou mesmo de alguns debatedores da área da Dança, porque junto com o circo, ainda somos os primos pobres das "artes cênicas". Respeito o apreço que muitos profissionais dessas três grandes áreas das artes têm com o significado das artes cênicas, pelo seu papel de resistência política, a partir de movimentos orgânicos de TEATRO, a criação da lei em plena ditadura (1978) o papel dos sindicatos, etc. Mas o respeito ao processo processo político de uma categoria (artistas de teatro) não pode superar o respeito aos demais processos históricos, artísticos e políticos independentes da dança e do circo. Isso que eu ainda nem falei da discrepância orçamentária entre estas três áreas, para não parecer que a dança está sempre de chapéu na mão, além de outros assuntos mais polêmicos como os percentuais regionais. A concentração de recursos na Região Sudeste não irá estancar a migração dos artistas (e profissionais de outras áreas também), fenômeno social perverso.
Por favor, mandem os gaúchos de volta para casa, porque já temos sugestões de divisão do bolo por densidade demográfica!!! Tá faltando quorum aqui!!! (essa parte é brincadeira, OK)
Vamos avançando no debate, caros amigos, sem perder o foco no FUNDO 2010.
No dia 22 estaremos realizando uma reunião em Porto Alegre, organizada por vários coletivos de Dança, dentre eles a Associação Gaúcha de Dança, com pauta específica sobre o Fundo de Artes Cências 2010, sem esquecer que uma das propostas prioritárias da Pré-Conferência Setorial de Dança foi a independência orçamentária da Dança em relação às demais áreas das artes "ditas" cênicas.
Beijos afetuosos aos colegas artistas de Dança, Circo e Teatro.
Marise Siqueira (Dança)
Porto Alegre/RS

3 comentários:

  1. Gente,

    Acredito que as artes de uma forma geral e os profissionais da área artistica precisam é de união, é obvio que quando falamos de mercado de trabalho, formação, editais, verbas, economia, subsistência, etc. Cada linguagem artística tem a sua especificidade própria, formação, campo de atuação, necessidades. Mas na atualidade muito se vê de híbrido na arte, isto é a junção de várias linguagens artísticas na mesma proposta. Acredito também que o termo “arte cênica” ou artes da cena, não vão deixar de existir. Porque aí perde-se a essência do espetáculo que é a apresentação para um público. Portanto tanto o circo, quanto o teatro e a dança continuarão a serem artes cênicas sim.

    Penso contudo, que tanto o circo, quanto o teatro e a dança tem suas especificidades próprias apesar das semelhanças, como já foi dito, e para o crescimento de cada uma destas áreas é necessário vermos isso, inclusive no tocante a distribuição de verbas e editais de fomento.

    Porém gostaria aqui de citar e denunciar um fato: Enquanto brigamos entre nós mesmos profissionais de educação física estão se aproveitando disso para se apropriar da nossa área das Artes Cênicas (dança, teatro e circo). E isso é muito mais sério do que podemos imaginar. Tentando vincular estas atividades a sua formação acadêmico-profissional. O que é anti-ético, ilegal e até imoral.

    Cabe lembrar que cursos de educação física não formam profissionais de artes cênicas, ou de arte de qualquer vertente . No caso da formação acadêmica, existem os cursos de graduação em Dança e Teatro (licenciaturas e bacharelados). Isso sem contar os cursos técnicos e outros de formação na inclusive do circo tão necessários, e aqueles na área que espero venham a surgir.

    Saliento também que os profissionais e os cursos de Educação Física, curso da área da saúde e biológicas já recebe incentivos tanto da área da saúde quanto do esporte e agora estão tentando abocanhar também os recursos e verbas oriundas do Ministério da Cultura que deveriam ser destinados ao segmento Artístico-Cultural. Além de ocupar vagas que também deveriam ser destinadas aos profissionais do segmento artístico.

    A verdade é que existe um interesse mercadológico e forte lobby dos Conselhos e Cursos de Educação Física, além de vários profissionais desta área em se apropriar das artes cênicas para ampliar a sua área de atuação e mercado de trabalho e se beneficiar. Inclusive de apropriando de verbas e incentivos que deveriam beneficiar os profissionais de Artes Cênicas (artes que tem em comum além da cena, o fato do artista ter no “corpo” seu objeto de trabalho e expressão).

    * Porém de forma completamente diferente do Educador Físico, que apesar de atuar também sobre o corpo intervém com propósitos de promoção da saúde, bem estar e condicionamento físico ... (isso perante a legislação)

    No final do ano passado terminei uma pesquisa e estudo monográfico intitulado Artes Cênicas x Educação Física, na minha graduação em Teatro, em que denuncio este tipo de tentativa de apropriação e jogada mercadológica da educação física, inclusive dentro das universidades.

    Acho importantíssimo este debate, mas temos que ter cuidado pois alguns profissionais de educação física já estão deturpando as informações aqui colocadas, dizendo por exemplo que Dança não é mais arte cênica. O que serve muito bem para os propósitos e interesses da educação física.

    Fica aqui o alerta e a denúncia quanto a esta questão de profissionais de educação física tentarem se apropriar das verbas de incentivo culturais. Num mercado tão limitado e competitivo quanto o nosso, essa é mais uma concorrência desleal, e providências tem que ser tomadas quanto a isso.

    Penso que questionar “ser ou não ser” arte cênica não é nem a questão. Temos que ter cuidado para isso não ser usado contra nós mesmos. Enfim é isso.


    Mônica Mesquita
    Graduada em Artes Teatro
    Pós Graduanda em Dança
    Pós Graduanda em Artes Visuais - Projeto na área de Cinema.
    Pesquisadora na área de mercado acadêmico-profissional de Artes Cênicas (Dança, Teatro e Circo)

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  2. Por favor alguém pode me ajudar, quero saber sobre padrão cultural dentro das artes cênicas. Desde já agradeço. Meu nome e Eliete

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